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sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Professora demitida por pedir nu artístico a aluno diz que se sente traída

A ideia era que um aluno fosse modelo para uma aula que abordava a mitologia greco-romana, onde os demais estudantes o desenhariam, como uma escultura. Uma das alunas não gostou da ideia do "nu artístico" da professora, reclamou com a família e o caso foi parar no Conselho Tutelar, que denunciou o fato para a Secretaria de Educação do Piauí. Há dez dias, a professora da cidade de Luís Correia foi demitida. Ela disse que se sentiu traída pela direção da escola, onde lecionava desde 2003, e lembra que quase perdeu a fala quando foi suspensa três dias após o episódio. (Relembre o caso!)

Em entrevista ao GLOBO, Wanda afirma que a escola tinha conhecimento da atividade e que a sua demissão demonstra que a instituição deu ouvido apenas aos alunos e desconfiou os seus objetivos na sala de aula.

"As atividades que desenvolvo em sala aula são voltadas para o desenho, a leitura da obra de arte a partir de ilustrações", conta ela.

Wanda, que cursou Educação Artística na Universidade Federal do Piauí e estudou Teatro na Casa da Cultura em Teresina, diz que não quis constranger os estudantes no dia da aula.

"A minha proposta era de realizarmos um exercício de desenho de observação do corpo humano diante de um modelo vivo. Ao perguntar quem poderia mostrar o seu corpo, surpreendi-me quando o aluno retirou a blusa e baixou a calça comprida até o joelho, pois eu não havia planejado a atividade de tal forma", conta a professora.

O estudante que se ofereceu para a atividade é um dos mais participativos da aula. Mas a proposta era que ele ficasse só de roupa íntima, e não nu.

"Um professor faz planejamento das suas aulas. Se ela errou, a culpa também é da coordenação da escola, que acompanha o planejamento. Por que ela não foi questionada antes? Existem questões mais sérias numa sala de aula, como o bullying e a violência", afirma o secretário de comunicação do sindicato dos trabalhadores em educação básica, Kassyus Lages. O departamento jurídico da instituição quer avaliar o processo para saber se cabe recurso.

"Ela não esperava ser demitida porque não teve a intenção de expor ninguém", conclui Lages.

Uma sindicância foi aberta para apurar o fato, que ocorreu em abril do ano passado. A demissão foi publicada no Diário Oficial do Piauí no dia 22 de agosto, após concluir que a professora descumpriu o estatuto do servidor público e a lei complementar que regulamenta a educação no Estado.

"A direção me procurou três dias depois, ordenando meu afastamento da sala de aula. Tentei explicar o ocorrido, mas a diretora argumentava que não compreendia as minhas explicações", conta a professora.

Quando soube da demissão, a professora que prefere não se identificar, decidiu viajar, por recomendação da família. Ela não teve mais contato com os alunos. Logo, não sabe como eles reagiram à sua saída.

A sua defesa foi apresentada diante da Procuradoria do Estado do Piauí. Ela vai recorrer da decisão e sonha em voltar a dar aulas na mesma escola.

"Gostaria de continuar o meu trabalho em sala de aula, na mesma escola", diz ela.

"No momento, estou tranquila, mas depois do ocorrido, passei por momentos de tensão que me causaram até dificuldades para falar", relata Wanda, que agora pretende fazer mestrado para continuar na profissão.

Ela diz ainda que se sentiu traída pela escola.

"Nós mantínhamos uma relação de amizade e sempre discutíamos sobre as dificuldades que passamos na escola devido à escassez de materiais e condições de trabalho", finaliza.

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